quinta-feira, 17 de abril de 2014

Rubem Alves e Saint-Exupéry


 "Então você está confusa com seus sentimentos. Ele apareceu tão de repente na sua vida, com aquele brilho manso no olhar, com aquela meiguice na voz, sem pedir coisa alguma, meio como um pequeno príncipe caído de um asteróide. A princípio você nada percebeu de diferente. O susto veio quando você se lembrou das palavras da raposa, explicando ao Pequeno Príncipe o que era ficar cativo: É assim. A princípio você senta lá e eu aqui. Depois a gente vai ficando cada vez mais perto. Os passos de todos os homens me fazem entrar dentro da minha toca. Mas os seus passos me fazem sair..."


"Assim o principezinho cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse: 
- Ah! Eu vou chorar. 
- A culpa é tua, disse o principezinho, eu não queria te fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse... 
- Quis, disse a raposa. 
- Mas tu vais chorar! disse o principezinho. 
- Vou, disse a raposa. 
- Então, não sais lucrando nada! 
- Eu lucro, disse a raposa, por causa da cor do trigo. 
Depois ela acrescentou: 
- Vai rever as rosas. Tu compreenderás que a tua é a única no mundo. Tu voltarás para me dizer adeus, e eu te farei presente de um segredo. 
Foi o principezinho rever as rosas: 
- Vós não sois absolutamente iguais à minha rosa, vós não sois nada ainda. Ninguém ainda vos cativou, nem cativastes a ninguém. Sois como era a minha raposa. Era uma raposa igual a cem mil outras. Mas eu fiz dela um amigo. Ela é agora única no mundo. 
E as rosas estavam desapontadas. 

- Sois belas, mas vazias, disse ele ainda. Não se pode morrer por vós. Minha rosa, sem dúvida um transeunte qualquer pensaria que se parece convosco. Ela sozinha é, porém, mais importante que vós todas, pois foi a ela que eu reguei. Foi a ela que pus sob a redoma. Foi a ela que abriguei com o pára-vento. Foi dela que eu matei as larvas (exceto duas ou três por causa das borboletas). Foi a ela que eu escutei queixar-se ou gabar-se, ou mesmo calar-se algumas vezes. É a minha rosa. 
E voltou, então, à raposa: 
- Adeus, disse ele... 

- Adeus, disse a raposa. Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos. 
- O essencial é invisível para os olhos, repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
 - Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante. - Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar. 
- Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela rosa... 
 


sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Eu Sonhei Um Sonho

Eu sonhei um sonho num tempo que já se foi
Quando esperanças eram grandes e valia a pena viver
Eu sonhei que o amor nunca morreria
Eu sonhei que Deus seria misericordioso

Então eu era jovem e destemida
Quando sonhos surgiram e foram usados e desperdiçados
Não havia nenhum resgate a ser pago
Nenhuma canção não cantada, nenhum vinho intocado

Mas os tigres vêm à noite
Com suas vozes suaves como trovão
Enquanto eles despedaçam sua esperança
Eles transformam seus sonhos em vergonha

E ainda assim eu sonhei que ele viria até mim
E que viveríamos os anos juntos
Mas há sonhos que não podem se realizar
E há tempestades que não podemos prever

Eu tive um sonho que minha vida seria
Tão diferente deste inferno que estou vivendo
Tão diferente daquilo que parecia
Agora a vida matou o sonho que sonhei

                                     Les Miserables


Sempre que ouço essa música, não posso deixar de pensar o quanto ela tem a ver comigo, com minha história de vida.
Como é bom ser jovem, confiante, destemida e sonhadora...
Sonhar é muito bom mas os sonhos foram feitos para serem realizados, materializados.
Com o tempo você aprende que cada dia que passa é único, e não volta mais, a juventude passa, e com ela os sonhos, e você acorda.
Sim, você acorda um dia, e vê que as coisas são diferentes e a realidade é dura e cruel as vezes...
Meu sonho era bom, mas totalmente impossível aos meus olhos ingênuos e infantis...
Acordei, e descobri que podemos também na realidade não apenas sermos príncipes ou princesas, mas podemos realizar todos os nossos sonhos, até os mais impossíveis.
A oportunidade estava ali, de mãos estendidas, olhando nos meus olhos esperando para ser realizada, materializada... e estava com pressa...
Mas porque quando você desperta é tão diferente?
Hoje sei, nada é o sonho sem a realidade, nem a realidade sem o sonho.
Permita-se sonhar, mas lute por cada sonho, pois se só permite sonhar, quando acordar, sentirá o choque da realidade, e não terá tempo para pensar...

" Tarde demais o conheci, por fim; cedo demais, sem conhecê-lo, amei-o."